
No entanto, atritos políticos com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, com a base aliada, com opositores e até com seus próprios ministros, somados ao envolvimento em polêmicas consideradas desnecessárias e, por fim, a falta de votos suficientes para aprovação no Congresso acabaram frustrando as expectativas dos principais agentes de mercado quanto à aprovação do texto da reforma da Previdência no primeiro semestre. Essa mudança acabou refletindo nas projeções de expansão do PIB, conforme é possível observar no Gráfico 1, o qual apresenta as projeções de expansão para o PIB para o biênio 2019 e 2020 desde de dezembro, mês imediatamente após a eleição do novo governo.
O desapontamento com o início do governo se refletiu nas expectativas de expansão do PIB para o ano corrente, o qual caiu de 2,55% em dezembro para 1,23% ao final de maio. Contudo, também é possível observar que para 2020 as projeções pouco se alteraram, sinalizando que o mercado ainda acredita na aprovação da reforma neste ano.

Segundo a Fundação, o resultado de março sinaliza desapontamento dos consumidores com o ritmo de recuperação da economia, após projetarem melhorias para a economia e para as finanças familiares em meses anteriores. Além da velocidade da recuperação estar mais lenta do que o esperado, a demora no avanço das reformas tem contribuído para o aumento da incerteza econômica, que, segundo levantamento da FGV, cedeu 2,3 pontos em março, conforme é possível notar no Gráfico 3. Contudo, o indicador segue ainda em patamares elevados, permanecendo acima da média histórica.
De acordo com a instituição de pesquisa, o referido índice busca medir a incerteza da economia doméstica a partir de informações coletadas dos principais periódicos do País, do Ibov e das expectativas do mercado financeiro sobre variáveis macroeconômicas. O aumento das incertezas geram impactos negativos tanto nas empresas, desestimulando investimentos e produção. Nas famílias, o principal choque é a diminuição na propensão ao consumo.


As perspectivas para a economia em 2019 apontam para mais um ano de baixo crescimento, o que é corroborado pelo elevado patamar de desocupados, pelas retrações no índice de confiança do consumidor, pela baixa utilização da capacidade instalada da indústria e pela adoção de uma política monetária acomodatícia pelo Comitê de Política Monetária, com a manutenção da Selic em 6,50% a.a., menor patamar da história.
Obviamente, este cenário afeta todos os setores da economia, mas como até o momento demos ênfase em variáveis como consumo das famílias, índices de confiança do consumidor e desemprego, acreditamos que essas variáveis possuem maior correlação com o varejo. Por isso, nos próximos parágrafos iremos analisar a performance de cada segmento do varejo, as principais companhias com ações listadas em bolsa e compará-las com os seus principais pares de mercado, a fim de saber qual a top pick e quais estão mais atrativas para investimentos focando no longo prazo.


Conforme dito anteriormente, os gastos relacionados com alimentação possuem mais importância no orçamento doméstico, e quando olhamos dados da inflação alimentar, constatamos que a mesma apresenta um movimento altista. Em 2019, o acumulado sinaliza uma alta de 4,34%, ao mesmo tempo que em março de 2019, a inflação alimentar estava no patamar de 0,32%. Com o encarecimento dos alimentos, é natural pensar que uma maior parte da renda familiar será direcionada para tal finalidade.
Embora o cenário seja desafiador, conforme é possível observar no gráfico 8 abaixo, que mostra a evolução do faturamento e volume de vendas do varejo focado em vestuário, isso não quer dizer que não tenhamos boas opções para investir para longo prazo.


As primeiras métricas que iremos avaliar são as operacionais, tais quais prazo médio de vendas, prazo médio de recebimento e de pagamento a fornecedores, essenciais para avaliar qualquer negócio, contudo, dado o uso intenso de capital de giro no varejo, precisam de ser verificadas com maior atenção.
O gráfico 9 apresenta o prazo médio de estocagem, que consiste no tempo decorrido entre a chegada do produto ao estoque até a sua venda, ou seja, quanto menor, melhor para a empresa, pois ela tem menores custos com estoques e sinaliza uma maior eficiência nas vendas. Percebemos que historicamente a Lojas Renner (LREN3) se mostra mais eficiente nas vendas e na gestão dos estoques na comparação com o seu respectivos par, dado o menor prazo de estocagem.
No gráfico 10, observa-se o prazo médio de recebimento, ou seja, o tempo médio que a companhia leva para receber as vendas realizadas à prazo. Quanto menor melhor, dado que a Companhia receberá mais rápido, o que reduz a probabilidade de ter que recorrer a empréstimos para financiamento das operações. É possível observar que historicamente ao longo dos trimestres as operações da Lojas Renner (LREN3) oscilam mais, mas mesmo assim apresentam um menor prazo para recebimento das vendas. Desde o primeiro trimestre de 2017 até o primeiro trimestre de 2019, o prazo de recebimento médio da LREN3 é de 90 dias, enquanto o da GUAR3 é de 118.


Ao compilar esses três dados chegamos a um conceito vital para as empresas do varejo que é ciclo de caixa, que nada mais é que a soma do prazo médio de recebimento e estocagem menos o prazo de pagamento a fornecedores. Esse indicador traduz em dias o tempo que a Companhia precisará para financiar suas operações com recursos oriundos de outras fontes (geralmente via emissão de instrumentos de dívidas, empréstimos e financiamentos) ou pela queima do caixa da Companhia.



Outra característica do segmento de varejo alimentar que é importante salientar é o fato de que os alimentos possuem um caráter de essencialidade, que é refletido no peso tanto sobre o orçamento doméstico e na composição do IPCA, fazendo com que em períodos de recessão ou baixo crescimento econômico o volume de vendas não sofra quedas acentuadas.



No que tange o prazo médio de estocagem, percebemos que historicamente o prazo médio do Carrefour é inferior ao do Pão de Açúcar, o que constitui uma vantagem para a rede francesa, dado que quanto menor o prazo de estocagem, melhor para a Companhia.
Ao analisar o prazo médio de recebimento das vendas à prazo, percebemos mais uma vantagem operacional para o Carrefour. Primeiro, pela estabilidade do indicador da rede francesa, percebe-se que o indicador do Grupo Pão de Açúcar é extremamente instável e mesmo tendo períodos onde ele é menor do que o prazo de recebimento do seu par de mercado, a média ao longo dos trimestre do Carrefour é menor em 11 dias, com a rede francesa recebendo as vendas a prazo em média em 90 dias, contra 101 do GPA.
Por fim, no último dado operacional, o prazo médio de pagamento a fornecedores, observamos que o indicador de ambas as redes de supermercados andam juntos, sem que seja possível perceber uma uma diferença


Por fim, no último dado operacional, o prazo médio de pagamento a fornecedores, observamos que o indicador de ambas as redes de supermercados andam juntos, sem que seja possível perceber uma uma diferença significativa, com o Carrefour tendo a leve vantagem, quase nula, de um maior prazo de pagamento a fornecedores.
Analisados esses três indicadores operacionais, concluímos através do ciclo de caixa, que é a soma dos prazos de recebimento e estocagem menos o de pagamento aos fornecedores, que operacionalmente o Carrefour tem se mostrado mais eficiente, mesmo que no último trimestre de 2018 o GPA tenha apresentado um resultado melhor.


Contudo, esse fator é atenuado pelo fato de o segmento ser defensivo, dada a importância e o peso que a alimentação possui no orçamento familiar. Ou seja, em períodos de baixo crescimento ou recessão, as ações do segmento podem se apresentar como uma opção interessante na composição de um portfólio diversificado, conforme comentado anteriormente.

Adicionalmente, as operações do atacado do Carrefour possuem margens maiores. Portanto, enxergamos a rede de supermercados e hipermercados francesa (CRFB3) como a top pick do segmento.



Talvez essa seja uma das análises mais fáceis. De um lado, temos a Magalu: um dos maiores cases de sucesso da bolsa de valores, apresentando sucessivos resultados trimestrais que surpreendem o mercado e que a cada dia se consolida como o principal player do e-commerce nacional, mesmo com a recente consolidação da Amazon. Ultimamente, tem também estampado o noticiário corporativo pela disputa pelo controle da Netshoes, mais um passo em direção à consolidação no mercado de e-commerce.
Do outro lado temos a Via Varejo, com um histórico de fracos resultados trimestrais, lutando para se adaptar às mudanças imposta pela tecnologia nos hábitos dos consumidores e que vive uma novela em relação à sua venda pelo seu controlador, o Grupo Pão de Açúcar. Mas, como a análise foca em aspectos operacionais, avaliaremos ambas as companhias com os mesmos indicadores anteriormente citados.
Iniciando pelo prazo médio de estocagem, pelo gráfico abaixo é possível perceber ampla vantagem da Magalu contra a Via Varejo. No período em análise a MGLU3


Passando para o prazo médio recebimento, percebemos mais uma vez que a Magalu possui vantagem frente a Via Varejo, contudo, é uma vantagem marginalmente pequena. Enquanto a MGLU3 recebe as vendas em 86 dias em média, a Via Varejo recebe em 89 dias, apenas 3 dias de diferença.
No que tange o prazo médio de pagamento a fornecedores, percebemos que historicamente o indicador de ambas as companhias andam juntas, fazendo com que nesse quesito ninguém tenha vantagem, pois ambas possuem um prazo de pagamento médio de 90 dias. Mas, realizando uma análise qualitativa das vendas à prazo, percebemos que a Magalu possui vantagem pelo fato dela possuir um cartão próprio, uma carteira de crédito maior e uma inadimplência menor.
Por fim, indo para o ciclo de caixa, já comentado e explicado anteriormente, percebemos que a vantagem qualitativa que a Magazine Luiza possui também é reflexo da maior eficiência operacional, traduzida por seu menor ciclo de caixa, que em média são incríveis 25 dias menores que o da Via Varejo, que é de 90 dias, enquanto o da Magalu é de 65 dias


Logo, no varejo focado em bens de consumo, ficamos com a Magazine Luiza (MGLU3) como a top pick do setor.
